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Inflorescências visuais 

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Na fluidez sensorial das series Ñandutís de Lilian Camelli, artista paraguaia residente no Brasil, as auréolas de criações metafóricas que potencializam o simbolismo deles e os transmutam em narrativas que acompanham os processos de surgimento, colonização e identidade de América Latina; projetam-se em obras de arte resultantes dos processos de construção plástica que a artista articula. Nessas obras de arte, o olhar e a memória se entrelaçam pelo fazer alegórico dos desenhos e das redes que se configuram nestes como diagramas de processos que ultrapassam as rígidas fronteiras da técnica e da história, para aparecerem transmutados em modalidades artísticas contemporâneas. Camelli, a artista que é mulher, arquiteta a partir de um símbolo, manifestos visuais que como teias de aranha (tradução do guarani de Nandutí para o espanhol) irradiam múltiplas possibilidades interpretativas; a partir de uma estruturação com sólidos argumentos estéticos.

 

A fluidez cromática, semântica e sensorial que identifica e projeta a pesquisa pictórica de Camelli aparece também, nas séries dos Ñandutís. Nessa fluidez e a inflorescência dos Ñandutís, como nas mandalas ou nos girassóis, vislumbram-se imagens presentes ou projetadas que constituem prolongamento(s) de realidade(s) particular(es) às vivências semeadas pelos percursos, inicialmente, da artista e posterior e permanentemente, do espectador. Ao serem apresentados como obras de arte, Camelli argucia que os Ñandutís [...] nasceram no interstício de suas palavras, na espessura de suas narrativas ou, ainda, no lugar sem lugar de seus sonhos, no vazio de seus corações; numa palavra, é o doce gosto das utopias.

 

Aparecem neles emoções semeadas e modificadas semântica, cromática e espacialmente, que explodem como obras de arte que irradiam sensorialmente a sutileza, a harmonia, a sensibilidade, a metafórica fragrância, a maleabilidade, o simbolismo e a verdade humana. Os Ñandutís irrompem, nas suas profusas configurações e nos seus variados formatos, como remoinhos que alertam e transgridem para revivermos e revisarmos desde a arte, as possibilidades e atitudes nos múltiplos espirais vivenciais, individuais e coletivos.

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Andrés Inocente Hernandéz, 2019

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